sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Falar em Público - Dom ou Mérito


“Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar. Ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender.” Pascal Blaise.
I- INTRODUÇÃO
Quem nunca perdeu o sono ao saber que deveria efetuar uma Apresentação Oral. Alguns sentem as pernas tremerem e as mãos suando, só de pensar nesta possibilidade.
A crença popular propaga que “falar em público” é um dom. No entanto, muito mais que uma dádiva de nossa herança genética, é resultado de muito esforço na preparação e muita prática na execução - é mais mérito que dom.
O objetivo deste POST é orientar a preparação e a execução de uma Apresentação Oral.
1- Tipos de Apresentação
O que desejo comunicar? Com que finalidade? Como?
Palestra - normalmente informativa, raramente é avaliada. Eventualmente pode fazer parte de um curso, mas normalmente se encerra com uma ou duas apresentações. Muitas vezes, o público até mesmo pagou para assistir à palestra e já está motivado para o assunto.
Aula – mais formal e instrutiva, a aula normalmente faz parte de um curso ou matéria. Após a aula, espera-se uma mudança de comportamento do aluno em relação a determinado assunto. Outra característica da aula é que o aluno quase sempre será avaliado.
Comunicados Orais - têm a finalidade informativa, normalmente de procedimentos ou regras a serem seguidos.
Palestra, aula e, mesmo um simples comunicado, necessitam ter um Objetivo definido, devem ser preparados e até mesmo ensaiados.
2- Objetivo de uma Apresentação
“Para os que não sabem o destino, qualquer proa é boa.”
A definição correta do Objetivo da Apresentação vai definir o produto final de uma Apresentação.
O que desejo transmitir?
O que pretendo com minha Apresentação?
Com que profundidade devo abordar o assunto (também chamado de nível de aprendizagem)?
Normalmente, o Objetivo é representado por um verbo que indica o que se deseja que os alunos/ouvintes aprendam.
Ex. Os alunos/ouvintes serão capazes de... (verbo que define Objetivo).
Os verbos mais comuns usados para definir o Objetivo são:
- conhecer: identificar, listar, memorizar;
- compreender: relacionar, explicar, entender o funcionamento;
- executar: fazer uma tarefa, aplicar uma fórmula;
- analisar: verificar a composição, definir as causas de uma falha, concluir;
- avaliar: apreciar, definir se está ou não de acordo com níveis aceitáveis.
Memorizar uma fórmula é um Objetivo muito diferente do que aplicá-la na solução de um problema.
Identificar as fontes de energia elétrica em um avião é muito mais simples que compreender como funcionariam os diversos sistemas do avião no caso de uma emergência elétrica.
Se você está efetuando um comunicado, e deseja que os ouvintes compreendam a informação transmitida, você deve explicar a importância desta informação. Se o nível Objetivo for apenas informar, talvez baste apenas escrever uma nota.
3- Público Alvo - o assunto a ser transmitido/ensinado deve estar adaptado ao "público alvo".
Quem são estes ouvintes? Qual a formação deles?
Explicar um estol para um grupo pilotos é diferente de explicar para um grupo de médicos.
Explicar a influência do ângulo de ataque na recuperação de um estol para Pilotos Privados é diferente do que explicar para Pilotos de Linha Aérea.
A duração da Apresentação está diretamente relacionada com o Objetivo e com o nível de conhecimento do público.
O ideal é que a duração da Apresentação seja definida de acordo com o Objetivo a ser atingido e com o público alvo. Se não houver esta possibilidade, o Objetivo deve ser ajustado apropriadamente. Objetivos mais simples requerem menos tempo.
II- PREPARAÇÃO DE UMA APRESENTAÇÃO
Além de adquirir profundo conhecimento sobre o assunto, recomenda-se que o palestrante/instrutor prepare a Apresentação, formalmente.
A estrutura apresentada a seguir, dividida em Introdução, Desenvolvimento e Conclusão, é a forma mais praticada atualmente.
Ela é também conhecida como Plano de Aula. O Plano de Aula nada mais é que um guia orientador a ser utilizado pelo palestrante/instrutor no momento da Apresentação.
Introdução, Desenvolvimento e Conclusão.
1- Introdução
A Introdução é subdividida em: Atenção, Motivação, Objetivo e Roteiro.
Uma introdução bem preparada e bem executada é fundamental e faz com que os ouvintes se interessem pelo assunto.
Atenção - é o primeiro contato com o público. Normalmente é um cumprimento, o agradecimento pela presença, etc. Visa apenas "chamar atenção" e serve principalmente para conquistar a simpatia do público.
Ex. Olá pessoal, bom dia, obrigado por terem vindo. Sua presença é importante, etc.
Motivação - esta fase visa motivar o público para o assunto. Pode ser uma história ou um acontecimento real que desperte o interesse dos ouvintes para o assunto. Dados estatísticos e citações também despertam muito o interesse.
Objetivo – aqui você deve mostrar claramente a finalidade da Apresentação. O Objetivo é a meta pretendida com a Apresentação e norteia toda a preparação e execução.
Na definição de Objetivo atual, faz-se uma relação com o que os alunos/ouvintes vão apreender. Ex."os alunos/ouvintes serão capazes de..." Ou seja, após a Apresentação os alunos/ouvintes devem assimilar a instrução/informação.
Roteiro – define os tópicos a serem abordados para se atingir o Objetivo. O Roteiro orienta o Desenvolvimento.
2- Desenvolvimento
Nesta fase são desenvolvidos os tópicos listados no Roteiro. Na realidade esta é a fase de “produção” da Apresentação: são demonstrados fatos, fornecidas informações, conceitos e introduzidas práticas, tudo para se atingir o Objetivo proposto.
No Desenvolvimento, deve-se observar:
- seguir uma lógica para explicar o assunto de maneira a atingir o Objetivo definido;
- explicar do mais simples para o mais complexo, do conhecido para o desconhecido;
- não deixar dúvidas pendentes: manter o contato visual com os ouvintes para perceber/sentir se a comunicação está fluindo. Se perceber que a assistência está "viajando", traga-os de volta. Uma boa técnica é fazer perguntas. Lance uma pergunta no ar e depois aponte alguém para responder. Se indicar uma pessoa antes de perguntar, os demais não prestam atenção;
Erro comum: ficar de costas lendo longos trechos e explicações. Lembre-se: todos sabem ler e se você vai apenas ler o que está nos livros, eles poderiam fazer isto sozinhos, em casa;
- remotive, se necessário (dados estatísticos e citações são úteis nesta hora);
- cuidado com os cacoetes: repetir palavras, tais como: né, ok, tá, entende, etc., demonstra insegurança e pode distrair. Lembre-se quando você era aluno e que adorava observar e contar estes quantas vezes o professor falou “né”, OK, tá, etc. Coçar os órgãos genitais... nem pensar!
- incentive as perguntas: se alguém perguntar, não deixe de dizer que a pergunta foi boa. Isso vai estimular outros a participar e desperta o interesse geral. Se não souber a resposta não chute. Veja se alguém pode ajudar ou deixe pendente, fique devendo.
Lembre-se: “a necessidade mais urgente do ser humano é sentir-se importante”.
3- Conclusão
Esta fase é subdividida em Revisão/Avaliação e a Conclusão propriamente dita.
Revisão/Avaliação - normalmente é o repasse do assunto e pode ser acompanhada de perguntas para reforçar o aprendizado (conforme a situação). No caso de aula, a Revisão pode ser uma avaliação oral para verificar se o Objetivo da aula foi atingido, se houve aprendizagem. Projetar o Roteiro utilizado na Introdução pode ser uma ferramenta útil para se efetuar a Revisão.
Em uma palestra podem ser reforçados os pontos mais importantes.
Conclusão - após a Revisão/Avaliação, pode-se projetar o Objetivo novamente para, assim, comprovar que o Objetivo da Apresentação foi atingido.
Dependendo do tipo de Apresentação, deve-se deixar um tempo para dúvidas. Isto pode ser mais comum em comunicados e palestras informativas.
Na Conclusão não deve ser introduzido nenhum assunto novo. Assunto novo pode se tornar antipático, pois os alunos estão mentalmente preparados para tomar um café.
III- EXEMPLO DA PREPARAÇÃO DE UMA APRESENTAÇÃO
Para reforçar a orientação contida no item II, segue um exemplo de preparação de uma Apresentação. Os comentários, em “itálico”, visam realçar a relação com os passos já explicados  no item II.
Esta preparação, também chamada de “Plano de Aula”, serve como guia para a execução da apresentação.
Neste exemplo os seguintes dados se aplicam:
Assunto: aula sobre o Sistema Elétrico do Avião Embraer 190.
Duração: 15 minutos.
Público Alvo: Comandantes candidatos a Instrutor de Voo.
PLANO DE AULA (comentado)
Introdução:
Atenção – cumprimentar o público e agradecer a presença. Enfatizar que podem interromper a qualquer momento para sanar dúvidas.
Comentários: como o próprio nome diz, este primeiro passo visa apenas chamar a atenção para o início da aula. É o momento de ser simpático.
Motivação- projetar a figura “...” e fazer uma analogia entre a falta de energia em um apartamento e em uma moderna aeronave.
Qual é a defesa para o caos resultante?
Conduzir para a resposta: redundância. As modernas aeronaves têm redundância para todas as situações consideradas catastróficas.
Comentários: na Motivação, todo esforço deve ser feito para que o público volte seu interesse para o que vai ser ensinado. É como se fosse uma propaganda do assunto. É aqui que o assunto é “vendido”.
Objetivo: projetar e ler o Objetivo da aula:
O aluno será capaz de:
“Identificar uma emergência elétrica e compreender as consequências nos sistemas relacionados”.
Comentários: note que este Objetivo está ajustado ao tempo disponível e ao nível de conhecimento do público alvo. Como é uma aula, é o aluno é que aprende.
Identificar é um objetivo simples. Compreender é um pouco mais complexo, mas o que se propõe a ensinar é pouco. Neste curto espaço de tempo, não adianta querer falar sobre todo o sistema elétrico.
Roteiro: projetar o Roteiro e fazer uma breve síntese de como será a aula.
O que é uma emergência elétrica?
Sistemas inoperantes relevantes e o impacto na operação.
Comentários: reforçando, o Roteiro contém os passos para se atingir o Objetivo e orienta o Desenvolvimento. Aqui o Instrutor já pode iniciar o processo de aprendizagem, fazendo uma pequena síntese de como será a aula.
Desenvolvimento:
Nesta fase são desenvolvidos os tópicos do Roteiro visando provar, demonstrar, explicar e fornecer informações, para que os alunos identifiquem o que é uma emergência elétrica, os sistemas inoperantes relevantes e o impacto na operação.
Como conduzir o desenvolvimento:
- Perguntar: o que é uma emergência elétrica? O que a caracteriza nos E-Jets? Como o piloto “percebe” a emergência elétrica?
Conduza o raciocínio dos alunos e depois projete o “slide...” com a resposta.
- Perguntar: quais as consequências de uma emergência Elétrica? Qual o impacto de cada sistema na operação?
Projetar o “slide...” com a relação dos sistemas e conduza o raciocínio dos alunos quanto às consequências e defesas em cada sistema.
- Projetar o “slide...” com as respostas e reforçar.
Comentários: esta é a fase mais importante da apresentação, pois ela atende a finalidade da apresentação. Nesta fase o instrutor/palestrante mostra que realmente preparou a aula/apresentação.
Conclusão:
Revisão:
Projetar novamente o Roteiro e fazer uma breve revisão, mostrando que o desenvolvimento cobriu todo o roteiro proposto.
Projetar o slide do Objetivo e mostre que o Objetivo da aula foi atingido.
Projetar o slide do “Obrigado”.
Comentários:
A revisão é a última oportunidade para reforçar o assunto apresentado. Nesta fase, o instrutor/palestrante verifica se realmente “deu o recado”. Isto pode ser feito com perguntas ou solicitando a algum aluno/ouvinte que explique alguma fase do assunto ministrado.
Se for uma palestra, é a oportunidade de reforçar as “mensagens” principais e o Objetivo da palestra.  
IV- AUXÍLIOS AO TREINAMENTO
Os auxílios ao treinamento são ferramentas imprescindíveis ao aprendizado. Eles facilitam a compreensão e reduzem o tempo para o aprendizado. No entanto, devem ser utilizados objetivamente e o Objetivo da apresentação deve estar sempre no foco.
1- Projeções
Embora vários tipos de auxílios à instrução possam ser utilizados para apoiar uma Apresentação, as projeções de figuras, informações, fotos e filmes (auxílios visuais) são os mais eficientes na maioria das Apresentações Orais.
Na utilização dos auxílios à instrução observe:
- o tamanho da letra deve ser adequado ao tamanho da sala: o público deve ser capaz de ler;
- cuidado com os erros de português ou em outro idioma;
- não abuse na quantidade de projeções e (reforçando) evite ficar muito tempo de costas lendo explicações e conceitos. As projeções são realces de partes importantes do assunto e não uma “muleta” para quem não preparou a aula;
- as projeções são para auxiliar e não para complicar. Elas devem ser usadas para tornar o entendimento mais fácil;
- no início, quando o pessoal estiver chegando, pode-se deixar projetada uma figura que desperte a atenção para o assunto;
- após a Atenção, vem a Motivação. Lembre-se, a Motivação deve despertar o interesse para o assunto. Ela pode fazer a diferença. Utilize algo que cause impacto;
- em seguida, vem o Objetivo e o Roteiro. Lembre-se, primeiro projete o Objetivo e depois o Roteiro, que são os passos para se atingir o Objetivo;
- durante o Desenvolvimento dos tópicos, não exagere na quantidade de projeções: como referência, use (no máximo) uma a cada 3 a 5 minutos de apresentação.
V- O QUE LEVAR NA APRESENTAÇÃO
Além do “pen drive”/computador com os arquivos de suas projeções, leve as projeções em papel, quando possível.
O Plano de Aula também pode ser essencial, principalmente quando você não está acostumado com a Apresentação ou a faz esporadicamente. Ele é seu guia, desenvolvido com as informações necessárias para apoiar sua Apresentação.
VI- TREINAMENTO
Um dos fatores que muito influenciam no sucesso da Apresentação é o conhecimento do assunto. Quanto mais você conhecer o assunto, mais seguro vai ficar.
O treinamento (ensaio) da Apresentação, principalmente na primeira vez, vai ajudá-lo a se adequar ao tempo disponível. Também pode deixá-lo mais tranquilo e confiante. Se possível, peça a um colega para assistir, fazer perguntas e criticar sua Apresentação.

Boas Apresentações.