segunda-feira, 24 de julho de 2017

Speech no idioma do TIO SAM


“Se algo é insustentável, algum dia não se sustenta”. Herbert Stein
1- Introdução
A comunicação com os clientes a bordo, além de ser uma poderosa ferramenta de marketing, pode fazer a diferença em situações anormais e de emergência.
O QUE, QUANDO e COMO falar, certamente, influencia na tranquilidade para a realização e continuação do voo.
O objetivo deste POST é auxiliar os tripulantes na execução dos speeches em INGLÊS, em situações normais, anormais e de emergência.
Ele não tem a finalidade de restringir a iniciativa e a individualidade características de cada pessoa. Também, não pretende estimular a quebra de normas estabelecidas pela Empresa.
Através do speech o piloto pode transmitir segurança, seriedade, tranquilidade, cordialidade, otimismo e confiança às pessoas a bordo.
2- Orientações Gerais
O que falar:
O que você falar pode trazer confiança, segurança e simpatia.
Adapte o speech ao tipo de passageiro (executivos, turistas, etc.) e à situação (saída, chegada, RTO, arremetida, emergência, etc.).
O que não falar:
- Nunca use gírias e nem palavrões.
- Evite palavras e expressões que possam gerar incerteza ou insegurança, tais como: unfortunately, bad luck, accident, malfunction, tunderstom, bad news, bad weather.
- Evite usar palavras técnicas. Use sinônimos mais conhecidos do público:
. Weather report, em vez de METAR;
. Unstable, em vez de turbulence;
. Rain, em vez de CB;
. Technical reason, em vez de technical problem;
. We discontinued the take off/landing, em vez de: we aborted the take off/go around;
. Hold, em vez de orbit;
. Reduced visibility, em vez de below minimuns;
. Cloud base, em vez de ceiling.
- Evite redundância: “we’ve just took off” (informação óbvia); “this is the Captain speeaking from the cockpit” (basta dizer – “this is the Captain” – todo ser humano normal vai perceber de onde você está falando).
“Thank you” (várias vezes) é demonstração de insegurança.
- Evite piadas e não fale de religião, política e futebol (minha vó já recomendava isto).
- Não coloque a culpa (por atrasos) em ninguém – relate apenas o fato.
Como preparar/transmitir o seu speech:
- Prepare seu speech, e até ensaie se achar válido, mas não decore e nem leia.
A seguir, um roteiro orientador para a preparação do speech, entre os muitos que você possa criar. Ele é dividido em Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Se achar melhor, escreva as palavras chaves e as use como guia:
. Introdução: normalmente (primeiro speech) é uma saudação: “good morning/evening / welcome / ladies and gentlemen, etc’.
Nos demais speeches, para o mesmo grupo, use apenas – “ladies and gentleman...” - ou mesmo uma chamada mais informal – “Hi, this is the Captain again....”
Nota: a expressão – “Your attention, please” – somente deve ser utilizada para comunicações importantes, que realmente necessitem a atenção de todos.
Evite desgastar esta importante chamada.
. Desenvolvimento: nesta fase identificamos a finalidade do speech.
A finalidade pode ser identificada perguntando-se:
O que desejo com esta comunicação?
Quero informar?
Quero justificar um atraso?
Quero orientar um procedimento ou uma situação?
. Conclusão: é o encerramento do speech, normalmente caracterizado por uma despedida ou agradecimento:
“Have a nice day /week end / thank you for flying…, wish to see you again, etc.”
Mais dicas:
- O tom de voz é muito importando no speech.
- Nas situações normais seja cordial, entusiasmado (coloque emoção e sinceridade no seu speech);
- Nas situações adversas, procure transmitir tranquilidade e segurança – fale com calma e clareza;
- Use lógica: do problema para a solução, da causa para o efeito;
- Não faça speeches longos (use frases curtas): o speech deve durar de 30 segundos a 1 minuto. Mais que isso incomoda os clientes (principalmente se sua aeronave for equipada com algum sistema de entretenimento);
- No pré-voo, faça um teste do PA, para checar/regular o volume da transmissão.
Quando falar:
Situação normal:
- Coordene com a cabine de passageiros para evitar interrupções no speech dos comissários;
- Em voos curtos (duração prevista menor que 1 hora), evite fazer muitos speeches, Normalmente, apenas um speech é suficiente;
- Voos de madrugada: fazer speech somente quando for necessário;
- Voos longos: fazer dois speeches: welcome speech e antes/durante a descida.
Situações anormais:
Uma satisfação para os clientes é uma boa prática quando algo anormal ocorrer (as pessoas adoram uma explicação, pois elas os faz se sentirem importantes).
- Demora na partida após o embarque;
- Atrasos no táxi, paradas na pista de táxi e demora na decolagem;
- RTO;
- Arremetida;
- Esperas;
- Ida para a alternativa;
- Após o pouso, sempre que parar o táxi, solicitar que permaneçam sentados.
Situações de emergência:
Exceto se a comunicação for imperiosa, aguarde a definição final do que pretende fazer para depois informar os passageiros.
Modificações nas decisões comunicadas causam insegurança e incertezas. As pessoas mais ansiosas podem perder o controle e causar mais problemas.
Por exemplo, definir e comunicar que vai para um destino e depois mudar o destino não é bom para os passageiros mais ansiosos.
3- Exemplos de SPEECHES:
Enfatizando, estes exemplos não pretendem inibir e nem restringir sua criatividade. Eles não têm o objetivo de tornar o speech uma leitura enfadonha.
Evite ler ou decorar – oriente-se, prepare-se, ensaie.
Speech inicial: welcome – voos muito curtos (duração menor que 1  hora)
Nota: atualmente, para ficar politicamente correto, talvez seja melhor falar "hello everyone", em vez de "ladies and gentlemen".
“Ladies and gentlemen, good morning / good afternoon / good evening.
Welcome aboard our … (aircraft type).
My name is …  and I am the Captain/ First officer for this flight.
Our flight time to (city) will be about .... minutes.
En route weather is good / rainy / sunny, etc.
In (city) right know / weather is cloudy / rainy / overcast and the temperature is  …  We wish you all a nice flight. Thank you.”
Speech inicial: welcome – voos longos
“Ladies and gentlemen, good morning / good afternoon / good evening.
Welcome aboard our …  (aircraft type).
My name is …  and I am the Captain/ First officer for this flight.
Our flight time to (city) will be about .... hours/minutes.
On our route we will fly over …. (route/points and states/countries to be overflow, if applicable).
En route weather is good / rainy / sunny, etc.
Before landing we will come back with updated information.
We wish you a nice flight. Thank you.”
Speech na chegada - voo longo (antes da descida ou logo após iniciá-la):
“We’ve already started our descent to … / we are about to start the descent to …. airport and expect to land at …. (local time). The latest weather report for (city) calls for temperature of … Celsius. The sky is clear /cloudy/ scattered/ overcasted. It is raining / sunny, etc.
We hope you have enjoyed traveling with us and wish you all a pleasant staying in …(city).
On behalf of our crew, thank you for choosing (company name).
Have a nice day / evening / weekend / holyday, etc.”
Ocasiões especiais:
“On behalf of (company name), our crew is happy to have you aboard on this special occasion and wish you …
-          An enjoyable Carnival;
-          A great Eastern;
-          A Father’s/Mother’s day full of happiness;
-          A peaceful Christmas;
-          A happy and successful New Year.”
Sobrevoo de pontos interessantes:
Só faça este speech caso as condições permitam que o passageiro visualize a paisagem:
“Just for curiosity, we are flying over the (famous / well known / beautiful, etc.) city of / region of …”
Atraso na decolagem:
Ao falar sobre atrasos, só estabeleça um estimado para a decolagem se tiver uma certeza razoável.
NÃO COLOQUE A CULPA EM NINGUEM, CONTE APENAS O FATO:
“Ladies and gentlemen, we are just waiting for (the) …
-          Completion of cargo / baggage loading;
-          Completion of our boarding procedures;
-          An improvement of weather in (destination);
-          Completion of local authorities procedures;
-          Aircraft refueling.
We will be taking off as soon as possible.”
Decolagem abortada:
Não mencionar a palavra segurança.
Explicar os motivos. Exemplos:
“We discontinued our takeoff  … (explain the cause):
Examples:
-          To verify one of our systems;
-          Due to an animal on the runway;
-          To comply with the air traffic control instruction.
Sorry for the inconvenience. I will come back later with more information.”
Retorno ao box / pátio
“We are returning to the gate  ….
-          To verify an indication of one of our systems;
-          Due to a tower request;
-          Due to a medical condition of one of  passengers;
I will come back later with more information.”
Área de Instabilidade
Evite explicar muito para não induzir os passageiros que você está preocupado.
Além disso, nem sempre a turbulência ocorre como imaginamos. Não use o termo tunderstorm e nem strong. Use rain, unstable area.
Ex. “Our weather radar shows some rain ahead. Please, remain seated.”
Órbita
Se a espera for curta (até 5 minutos), não mencione. Muitos passageiros não perceberão e não há necessidade de chamar atenção para o fato.
“According  to information received from Air Traffic Control:
-          Our destination is closed due to weather /
-          The air traffic in our destination is overloaded / crowded, etc.
We have to wait north / east / south etc. of the field till this situation gets better.
I will be back with more information when available.” 
Alternar aeroporto:
- Devido ao mau tempo
Fornecer as informações após ter a autorização para o novo destino.
“We are proceeding to (city) because our destination is closed due to (weather conditions (não dramatize). Weather in (novo destino) is ….. and we should be landing at (time).
After landing our ground crew will assist you. Sorry for any inconvenience this may cause.”
- Devido anormalidade/emergência
“We are proceeding to (city) because ….
-          One of our passengers needs medical assistance;
-          To verify one of our systems, etc.
Weather in (novo destino) is ….. and we should be landing at (time).
After landing our ground crew will assist you. Sorry for any inconvenience this may cause.”
Arremetida:
Efetuar o speech após definir o que vai acontecer.
“We had to discontinue our approach due to air traffic request / due to the weather (ou outra razão que julgar apropriada).
We should be landing in (city) shortly. Sorry for any inconvenience this procedure may have caused.”
Cancelamento de voo
“Our flight was canceled due to….
-          Weather conditions in …;
-          Weather conditions for takeoff;
-          Technical reason, etc.
I kindly ask you to disembark. …… (company name) is taking the best course of action to assist all passengers.”
Inspeção de autoridade:
“We were informed that our airplane will be inspected by the authorities.
Please, remain seated and have your passports / documents / ticket ready.
As soon as we are released we will proceed with our flight.”
Despressurização:
Após nivelado na altitude de segurança, e ter concluído o procedimento de emergência previsto:
“We’ve had a cabin depressurization, but we already reached a safety altitude.
We do not need to use the oxygen masks any longer. Sorry for the discomfort.
If you need any assistance, please call one of our flight attendant.
We will continue to fly safely to (city) where we should be landing at (local time).”
Pouso fora da pista - preparado
“Your attention, please – this is the Captain. We had a situation and will be forced to land (in the water, in the forest, on the road, etc.). The aircraft is projected for this situation and I request that you follow the flight attendant instructions. They are prepared to handle this emergency.
After landing, remain seated and wait our instructions.”
Fogo a bordo em voo:
Este speech é importante caso os comissários estejam combatendo fogo a bordo, para evitar tumulto.
“Your attention, please – this is the Captain. Remain seated and calm and follow our crew instructions. They are trained to deal with this situation and have your safety as first priority.”
Após extinguir o fogo:
“Sorry for the discomfort. The situation is under control:
-           And we will continue the flight to our destination; or
-          We will alternate to … for precaution.
We should be landing in (city) at …. (local time).
We appreciated your cooperation in this situation. Thank you.”
Bomba a bordo (em voo);
Este speech deve ser efetuado quando houver suspeita de bomba a bordo, antes da verificação.
“Your attention, please - our company has received an information concerning a suspected object aboard one of our aircraft. We will inspect the passenger cabin. Please, follow the  FAs orientation.”
Caso seja encontrado algum objeto suspeito, após a realização do procedimento, efetue speech atualizando os passageiros.
“Your attention, please - due to this situation, we will return / alternate. Eventually we will come back with more information. Our actions always priories your safety. Thank you.”
Sequestro
ESTE SPEECH DEVE SER EFETUADO EM COMUM ACORDO COM OS SEQUESTRADORES:
“Your attention, please – this is the Captain. Our aircraft was taken by force and this group request us to follow their orders.  Remain seated, with your fasten belt on.
Remain calm – I REPEAT – REMAIN CALM and do not react.
This is very important for continuing our flight safely.
We will find a favorable solution to everybody.
I will keep you informed.
Thank you.”


Happy speeches.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

PERFORMANCE X FAR/RBAC 25/121

I- INTRODUÇÃO

"When things go very wrong, the last line of defense is the Aviator"
Unknown author

A motivação para este POST vem da necessidade de melhor compreendermos os “softwares” de desempenho de decolagem e de pouso. Atualmente, com a automação e implantação de novas tecnologias, a tendência tem sido uma mecanização dos procedimentos. Estes fatos têm afastado os pilotos da realidade, pois os levam a confiar nos “softwares” de desempenho, sem realmente conhecer os critérios da legislação e nem o desempenho de sua aeronave.
Aproveitamos para abordar  sobre o assunto que é a “bola da vez” nos EUA – O “RUNWAY OVERRUN”. Para mitigar os eventos de “runway overrun” o FAA criou um grupo de trabalho denominado TALPA - "Takeoff and Landing Performance Assessment".
Nas referências listamos os documentos mais atuais, resultantes dos trabalhos da TALPA.
Embora a maioria dos assuntos sejam aplicáveis a outras categorias de aeronaves, este POST focará nos aviões bimotores a jato, da Categoria Transporte, certificados pelo FAR/RBAC 25, operando de acordo com o FAR/RBAC 121.
II- SIGLAS E DEFINIÇÕES
1 - Siglas
AC – advisory circular (FAA)
AEO - all engines operating
AFElev – above field elevation
GA – go around
MTOW – maximum takeoff weight
OEI - one engine inoperative
RTO – rejected takeoff
SAFO – Safety Alert for Operators (FAA)
SOP – Standard Operacional Procedures
TALPA -Takeoff and Landing Performance Assessment
Vfr - flap retraction speed
Vmbe - minimum brake energy speed
Vmca - minimum control speed on the air
Vmcg - minimum control speed on the ground
Vr – takeoff rotation speed
2 - Definições
a- Velocidade
As velocidades operacionais são normalmente definidas em voos de testes, atendendo aos requisitos do FAR/RBAC 25. Os testes são “gravados” e comprovados junto às autoridades certificadoras.
V1 (decision speed) - é a velocidade onde, em caso de falha de motor, existe pista suficiente para continuar e efetuar a decolagem, ou efetuar uma RTO.
V2 (takeoff safety speed) – é a velocidade selecionada pelo fabricante de acordo com o FAR/RBAC 25. Essencialmente, é a velocidade que garante o gradiente de subida requerido pelo FAR/RBAC 121 e o controle da aeronave, quando com um motor inoperante e flapes de decolagem.
Vappclb (approach climb speed) - é a velocidade a ser usada em uma arremetida no ar, OEI, flapes aproximação e trem de pouso recolhido. A Vappclb pode provocar limitação no peso de pouso devido ao requisito mínimo de gradiente de subida.
Vef (engine failure speed) – é a velocidade na qual o motor crítico é assumido ficar inoperante. Não pode ser menor que a Vmcg.
Vfs (takeoff final segment speed) - é a velocidade a ser atingida e mantida durante o segmento final em uma decolagem com falha de motor, com trem e flapes recolhidos. Normalmente, esta velocidade objetiva o melhor ângulo de subida. Ela deve ser igual ou maior que 1.2 da Vs (ou 1.13 da Vs-1g).
Vlof (lift off speed) -  é a velocidade que permite que a aeronave decole sem bater a cauda no solo. A Vlof não pode ser menor que 1.10 da Vmu (AEO) ou 1.05 da Vmu (OEI) e nem maior que Vmax.tire (velocidade máxima dos pneus).
Vmu (minimum unstick speed) - é a velocidade mínima para que o profundor tenha força aerodinâmica para fazer a aeronave sair do solo com segurança e continuar a decolagem, sem apresentar riscos.
Vref (landing reference speed) - é a velocidade mínima de aproximação na configuração de pouso. Nos critérios de performance da FAR 25 é a velocidade mínima de cruzamento da cabeceira da pista de pouso, a 50 pés.
Vs – (stall speed) – a velocidade de estol é determinada de acordo com os critérios definidos no FAR/RBAC 25 e é uma das referências para a definição da maioria das velocidades operacionais.
Vs-1g – O FAR/RBAC 25 padronizou que a velocidade de estol, referência para definição de outras velocidades, deve ser obtida com o fator de carga de 1 G.
A Vs-1g é uma das referências para a definição da V2, Vfs, Vref, Vappclb.
b- Pista
All engines takeoff distance – é a distância desde o início da corrida de decolagem até que seja atingida a altura de 35 pés AFElev, com AEO e potência de decolagem.
LD (landing distance) – é a distância calculada para o pouso. Inclui a distância voada pelo avião desde o momento que cruza a cabeceira da pista, a 50 pés, até o ponto em que o trem principal toca na pista (air distance) e a corrida após o toque na pista até a parada total do avião.
LDA (landing distance available) - é o comprimento declarado estar disponível e adequado para o pouso.
AGD (accelerate-go distance) - é a distância percorrida desde o início da decolagem, ter uma falha do motor crítico na Vef, e continuar a decolagem com o motor remanescente até uma atingir a V2 a 35 pés de altura.
ASD (accelerate-stop distance) - é a maior das distâncias abaixo:
- Distância requerida para acelerar até a V1 com AEO, continuar acelerando por mais 2 segundos, e desacelerar até uma parada completa, com todos os motores operando, ou
- Distância requerida para acelerar até a Vef com AEO, então acelerar até a V1 com OEI, continuar acelerando por mais segundos, e desacelerar até uma parada completa com o OEI.
Critérios:
-       Na desaceleração é considerado o uso do freio máximo manual e “speedbrakes” estendidos;
-       O uso dos reversores não deve ser considerado com pista seca, mas pode ser considerado com pista molhada (a critério do requerente).
Balanced field lenght - e quando a distância do ASD é igual à distância do AGD.
Clearway - é uma área livre, além do final da pista, que pode ser usada nos cálculos de decolagem. O requisito permite que a aeronave atinja os 35 pés sobre a “clearway”, desde que a Vlof ocorra sobre a pista.
-       Para ser considerada “clearway” a área deve ser controlada pela autoridade competente e atender aos demais requisitos da legislação.
Stopway - é uma área, no prolongamento da pista, capaz de suportar a aeronave sem lhe causar dano.
A “stopway” deve ser tão larga (ou mais) quanto a pista, estar no prolongamento e rumo da pista e ser designada pela autoridade competente para uso em caso de RTO.
TORA (takeoff runway available) - é o comprimento da pista sem incluir a “stopway” ou “clearway”.
ASDA (accelerate stop distance available) - é a TORA mais a “stopway”.
TODA (takeoff distance available) - é o TORA mais a “clearway”.
Nota – nesta definição, se o aeródromo possuir “stopway” e “clearway”, estas áreas serão consideradas “clearway”.
Unbalanced Field Lenght - quando são consideradas uma “clearway” e/ou uma “stopway”, a ASD e a AGD não ficam equilibradas e dizemos que a pista não está balanceada.
Dry runway – a pista está “dry” quando não se enquadra na definição de “wet” e nem de “contaminated”. Por exemplo, se 25% ou menos da superfície utilizável da pista estiver com geada, neve, etc, ela é considerada seca.
Wet Runway – a pista está “wet” quando não se enquadrar na definição de “dry” e nem “contaminated”, e:
- Mais que 25% da superfície utilizável da pista está coberto com humidade visível ou água.  
Contaminated runway - a pista é considerada contaminada quando mais de 25% da superfície utilizável da pista está coberta por água (profundidade maior que 3 mm), ou por: frost, dry snow, wet snow, compacted snow, slush (neve derretida), ice ou wet ice.
Nota: veja a AC 25-32 para definição destes contaminantes.
Pista fatorada – de acordo com o FAR/RBAC 121, a pista está fatorada quando:
Dry: a LD for 60% ou menos da LDA.
Wet: o resultado da LD dry + 15% for 60% ou menos da LDA.
Nota: Estes são requisitos da FAR/RBAC 121 para que o voo possa ser despachado. Porém, ao chegar no destino, os critérios são outros.
c- Segmentos de Decolagem
O FAR/RBAC 25 define as fases de uma decolagem com falha de motor em 4 segmentos e estabelece um gradiente de subida mínimo para cada segmento. Os “softwares” de análise de decolagem ajustam o peso da decolagem para contemplar estes gradientes e os obstáculos localizados no setor de decolagem, como definido pelo FAR/RBAC 121.
Primeiro segmento - vai desde 35 pés AFElev até a retração completa do trem de pouso.
Critérios:
- V2, motor crítico falhado, potência de decolagem e flapes de decolagem.
Segundo segmento - vai desde a retração completa do trem de pouso até a altura onde a velocidade da aeronave é acelerada para o recolhimento dos flapes (acceleration altitude).
Critérios para a definição da “acceleration altitude”:
- Altitude mínima de 400 pés AFElev (ANAC e FAA) ou mais alta em função de obstáculo no setor de decolagem;
- Manutenção da potência e flapes de decolagem durante o segundo segmento.
Terceiro segmento - vai desde o final do segundo segmento até a aeronave atingir a configuração lisa e a Vfs.
Critérios: potência de decolagem, motor crítico falhado
Segmento final - também chamado de quarto segmento, vai desde o ponto em que a aeronave é limpa e atinge a Vfs até 1500 pés AFElev.
Nota: a potência de decolagem é reduzida para MCT (maximum contínuos thrust) durante o quarto segmento.
III- ANÁLISE DE CASOS
“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho normal”
Albert Einstein.
Neste capítulo, para motivar a leitura, apresentaremos alguns casos, dúvidas e os comentários pertinentes, apoiados nas referências abaixo citadas:
- FAR/RBAC 25: emite os requisitos para um fabricante construir e certificar uma aeronave da categoria Transporte.
- FAR/RBAC 121: especifica os requisitos a serem seguidos pelos Operadores de Empresa de Transporte Aéreo (certificado ETA).
- TALPA (FAA): grupo que se propõe a os reduzir o risco de “runway overruns”.
Primeiro caso:
Cenário
O voo foi despachado para um destino com uma LDA de 1320 metros.
Dúvidas:
- No despacho do avião, qual o percentual da LDA deve ser considerado para os cálculos de peso máximo de pouso?
- Durante o voo, caso ocorra alguma modificação nas condições, e a “landing distance” seja maior que a despachada, o piloto é obrigado (legalmente) a seguir para um aeródromo adequado?
- E se a pista estiver “wet”?
- E se a pista estiver “contaminated”?
Comentários:
O primeiro ponto a enfatizar é que existe uma diferença fundamental entre o despacho do voo e a decisão operacional de pousar.
Quando o voo é despachado, a LD tem que ser fatorada e o resultado deve ser menor que a LDA.
Nota: fatorar, de acordo com o FAR/RBAC 121, é calcular que a LD seja de no máximo 60% da LDA.
Na prática, para saber se o avião pode ser despachado para uma pista “dry”, multiplicamos a LD calculada por 1.67. O resultado tem que ser igual ou menor que a LDA.
No entanto, na hora do pouso, as regras do despacho não se aplicam e a decisão de pousar é do comandante.
Legalmente, ele não tem que seguir os critérios utilizados para o despacho do voo.
Podem ter ocorrido alterações no peso de pouso, nas condições ambientais, na pista em uso, ou falha de algum sistema.
Cabe ao comandante, através de uma “operacional decision make”, decidir se é seguro pousar.
A pista, no destino, está WET !
Ao despachar o avião para uma pista WET, pelo FAR/RBAC 121, a LD planejada para pista seca tem que ser aumentada em 15%.
Neste caso, antes de fatorar a pista, multiplicamos a LD calculada para “dry” por 1.15.
Na prática, para saber se o avião pode ser despachado para uma pista “wet”, multiplicamos a LD calculada para pista "dry" por 1.92. O resultado tem que ser igual ou menor que a LDA.
De novo, ao chegar no destino, caso as condições tenham se alterado, cabe ao comandante decidir se vai pousar ou seguir para uma alternativa mais favorável.
Nota: Os “softwares” de pouso e decolagem, normalmente, contemplam a opção de cálculo da performance de pouso quando a pista estiver molhada.
A pista, no destino, está CONTAMINATED !
O FAR/RBAC 121 não regula critérios para o despacho do voo, caso exista previsão da pista estar contaminada ou escorregadia. Na chegada, caso a pista esteja contaminada ou escorregadia, é problema do comandante calcular e decidir se vai pousar.
Esta tem sido uma recorrente causa de "runway overrun".
Ações em curso para apoiar os pilotos nesta decisão e minimizar os "runway overrun":
- TALPA: visa reduzir os riscos de “runway overrun”, fornecendo aos aeroportos um método para se calcular, com precisão, as condições da pista quando o pavimento não estiver seco (já efetivo nos EUA nos aeroportos selecionados pelo governo).
 Esta informação capacitará operadores, pilotos e despachantes de voo a determinar a distância requerida para parar a aeronave, quando a pista estiver contaminada ou molhada.
- SAFO e AC (ver Referências no final): estes documentos, emitidos pelo FAA, recomendam que os operadores de “turbojets” desenvolvam procedimentos visando a avaliação, pelos pilotos, baseado nas condições reais na hora do pouso.
- Os fabricantes, normalmente, fornecem informações que possibilitam o cálculo da LD, em função dos diversos tipos de contaminação da pista.
Notas:
(1) - O FAA recomenda uma margem de segurança, de pelo menos 15%, a ser adicionada sobre a LD calculada com as informações do fabricante. Esta recomendação baseia-se na premissa de que um voo de teste, usado para obter as informações, não é um voo típico de uma Linha Aérea.
(2) - Alguns aeroportos têm regras definidas proibindo o pouso com pista contaminada.
Segundo caso:
Cenário
O piloto foi informado pelo DOV que a pista não estava balanceada.
Dúvidas:
- O que significa “unbalanced field”?
Comentários:
Se o aeródromo possuir uma “stopway”, a distância de parada em caso de uma RTO é aumentada. Este procedimento permite uma decolagem com mais peso, pois a “stopway” pode ser usada em caso de uma RTO.
Se o aeródromo possuir uma “clearway”, o ponto onde a aeronave deve atingir os 35 pés pode ser sobre a “clearway”. Este procedimento também permite uma decolagem com mais peso.
Em ambos os casos, dizemos que o comprimento da pista e a V1 estão UNBALANCED.
Como regra geral, a V1 com “clearway” será mais baixa que a V1 “balanced” e a V1  com “stopway” será mais alta que a V1 “balanced”.
Terceiro caso
Cenário
Decolagem com a MTOW, limitado pelo comprimento da pista.
Dúvidas:
- Existe margem de segurança, caso uma RTO seja efetuada na V1?
- O que pode ocorrer se o piloto decidir prosseguir na DEP, caso ocorra uma falha antes da V1?
- O que pode ocorrer se o piloto decidir efetuar uma RTO acima da V1?
- A V1 pode variar, para mais ou para menos?
- E se a pista estiver “wet”?
- E se a pista estiver “contaminated”?
- A posição calculada e ajustada no estabilizador, antes da DEP, para que serve?
Comentários:
Quando decolando com MTOW para a pista, existe muito pouca margem de segurança para a realização de uma RTO. Isso significa, que caso uma RTO seja efetuada na V1, provavelmente será utilizada toda a pista disponível para parar a aeronave.
Com MTOW para a pista, se a RTO for iniciada acima da V1, existe grande chance de “varar” a pista.
Por outro lado, se prosseguir na DEP com OEI ocorrido antes da V1, principalmente se for antes da Vef, pode haver dificuldade no controle da aeronave e existe a possibilidade do avião não decolar até o final da pista, ou mesmo não cumprir o perfil da decolagem com OEI (cruzar a cabeceira oposta a 35 pés AFElev e na V2).
Sobre a redução ou aumento da V1:
Os “softwares” atuais permitem a variação da V1 para melhorar as condições na DEP.
- Decolando de uma pista curta, por exemplo, ela pode ser reduzida até a V1 mínima para permitir uma RTO mais segura. A V1 mínima permite que, em caso de RTO, a aeronave seja parada antes do final da pista. Se a decisão for de prosseguir, com falha na V1, a aeronave deve atingir a altura de 35 pés no final da pista.
- Caso a decolagem seja efetuada em uma pista longa, a V1 pode ser aumentada até a V1 máxima para possibilitar maior controle ao prosseguir na decolagem após uma falha de motor. A V1 máxima tem a vantagem de permitir que, em caso de falha de motor, a altura de 35 pés seja atingida antes do final da pista, mas em caso de RTO, a aeronave vai parar no final da pista.
Em ambos os casos o peso máximo de decolagem pode ser penalizado.
Nota: embora alguns “softwares” contemplem a variação da V1, esta função é normalmente bloqueada aos pilotos pela Empresa.
- E se a pista estiver “wet”? - E se a pista estiver “contaminated”?
Os “softwares” atuais possuem a opção pela pista “wet”, porém normalmente não contemplam a pista contaminada.
Trim: a posição calculada e ajustada no estabilizador, antes da DEP, objetiva que a aeronave esteja “trimada” para a V2 e monomotor.
Quarto caso
Cenário:
A decolagem está sendo efetuada em um aeródromo com obstáculos, em condições IMC. Ao rodar a análise de pista, o piloto observou que ele estava com o peso limitado devido “climb” no segundo segmento.
Dúvidas:
- Se ocorrer um monomotor, a trajetória de decolagem está protegida dos obstáculos?
- Qual o gradiente de subida mínimo nos segmentos da decolagem?
- Se o piloto efetuar uma curva, na V2, este gradiente vai ser penalizado?
- Na V2, qual a inclinação máxima para não prejudicar o controle do avião?
Comentários:
As análises de decolagem consideram os obstáculos localizados no setor de decolagem, como definido pelo FAR/RBAC 121.
Exceto em situações analisadas e aprovados, caso tenha um monomotor, em condições IMC e com obstáculos, o piloto deve manter o eixo da pista o mais preciso possível, para evitar sair da área protegida e para manter o gradiente de subida.
Os segmentos de decolagem foram criados para definir gradientes de subida na decolagem em caso de falha de motor.
Gradientes mínimos em caso de falha de motor na decolagem:
- Primeiro segmento: gradiente positivo;
- Segundo segmento: 2.4%;
- Terceiro segmento, aceleração, o gradiente não pode ser negativo;
- Quarto Segmento (final): 1.2%.
Notas:
- O quarto segmento termina a 1500 pés AFElev, encerrando o perfil de decolagem.
Estes gradientes consideram as asas niveladas (ou com pequenas variações). Caso o piloto execute uma curva na V2, o controle e a manobra do avião estão garantidos até 15 graus de inclinação, mas a razão de subida será penalizada.
- Terminada a fase de decolagem, caso o perfil da SID não possa ser cumprido devido a obstáculos, ou por outro motivo, devem ser desenvolvidos procedimentos de contingência que forneçam aos pilotos instruções a serem seguidas.
IV – CONCLUSÃO
Reforçando as observações da Introdução deste POST:
É fundamental que os pilotos compreendam os “softwares” de performance utilizados, bem como os requisitos neles inseridos.
Em relação à operação em pistas contaminados, existem vários estudos e procedimentos efetivados e em processo de implantação. Neste sentido, é urgente a necessidade dos operadores desenvolverem um método preciso e consistente de determinar a “landing distance”, quando a pista não estiver seca.
V - Referências
- AC 25-32 (FAA) – Ldg. Perf. Data for Time-of-Arrival Ldg. Perf. Assessment (22/12/15)
- AC 91-79A – Mitigating the Risks of a Runway Overrun Upon Landing (28/04/2016)
- SAFO 16009 (FAA) – Runway Assessment and Condition Reporting (15/08/2016)
- SAFO 06012 (FAA) – Landing Performance Assessment at Time of Arrival (31/08/2016)
- FAA TV - Landing Distance Assessment.

Happy  dry, wet and contaminated landings.