1- INTRODUÇÃO
Ao definir os objetivos deste POST, o
foco inicial era fornecer orientações sobre como reduzir os custos diretos do
voo (aqueles que só incidem quando a aeronave voa).
No entanto, muitos destes custos são
específicos da Empresa (salário dos tripulantes, por exemplo) e não podem ser
contabilizados.
Então, a decisão foi focar nas ações relacionadas à economia de combustível.
Então, a decisão foi focar nas ações relacionadas à economia de combustível.
Basicamente, este POST objetiva:
· Enumerar a influência das
ações do piloto e do DOV no consumo de combustível;
· Enumerar os fatores
que provocam a deterioração do motor e a degradação da aeronave, bem como as
ações do piloto e da Manutenção para minimizá-los.
1.1- Definições:
COC - (cash operating costs) são os custos diretos que ocorrem quando
a aeronave voa. O COC não inclui os custos fixos, tais como leasing, seguros e
os custos de capital.
O COC, geralmente, inclui:
· - Custos relacionados com o combustível (no Brasil, pode atingir 40% dos
custos da operação (COC)).
· - Tarifas relacionadas ao voo (de aeroporto, de navegação e de pouso); e
· - Demais custos relacionados à duração do voo (Manutenção, tripulação,
etc.).
Cost Index- a finalidade do
"cost index" é relacionar o custo do combustível com os custos
relacionados ao tempo de operação. A redução do consumo de combustível por quilômetro
voado, normalmente, é obtida através da redução da velocidade. No entanto, ao
reduzir a velocidade, os custos da tripulação e de Manutenção aumentam, pois
são variáveis com a duração do voo.
Esta equação é solucionada pelo “cost
Index”.
Nota: o FMS dos E-Jets E-1 não tem capacidade de processar o “cost
índex”.
TSFC -(Thrust
Specific Consumption) – é um índice que mostra o consumo do motor por tração
(Fuel Flow/Thrust). O TSFC mostra a eficiência do motor, que pode ser observada
pela necessidade de um maior FF e ITT para uma determinada N1. Quanto menor FF
e ITT para manter a N1, melhor a performance do motor.
2- INFLUÊNCIA dos PROCEDIMENTOS no CONSUMO de COMBUSTÍVEL
Lembre-se: quando aplicar métodos para reduzir
o combustível requerido, a segurança do voo não pode ser desconsiderada.
Para tornar os exemplos mais concretos, os cálculos foram efetuados com
a mesma referência – "Trip distance" (air distance) média de 600
NM.
Neste voo hipotético, ações inadequadas do piloto e do DOV podem influenciar o "trip fuel", aumentando-o em até 275 Kg ou mais.
Neste voo hipotético, ações inadequadas do piloto e do DOV podem influenciar o "trip fuel", aumentando-o em até 275 Kg ou mais.
a- Flight Planning
Fuel required - a quantidade de
combustível reabastecida para a realização de um voo deve ser suficiente para
cumprir os requisitos legais. A definição de uma alternativa é um destes
requisitos. A distância desta alternativa é um parâmetro importante, pois, a
cada 100 NM representa um acréscimo de 0,63% no "trip fuel".
Outro fator é o adicional de combustível, o chamado “extra fuel” ou
“combustível das crianças”.
Embora não seja uma exigência
legal, o “extra fuel” é, normalmente, abastecido em situações previstas de mau
tempo, excesso de tráfego aéreo ou outro fator julgado necessário.
Para cada 200 Kg de combustível extra, o "trip fuel" aumenta, em média, 0,28 %.
Para cada 200 Kg de combustível extra, o "trip fuel" aumenta, em média, 0,28 %.
A Empresa deve prover o piloto com
informações confiáveis para que ele possa decidir o “extra fuel” com economia,
porém mantendo a segurança do voo.
b- "Take Off"
"Reduced TO Thrust" - na realidade,
decolar com potência reduzida consome de 1 a 3 Kg a mais (dependendo da
altitude de aceleração) do que em uma decolagem com potência máxima, pois, com
menor razão de subida, mais tempo é necessário para atingir o segundo segmento
(mais tempo, maior consumo).
A finalidade de decolar com potência
reduzida é a extensão da vida do motor. Quanto menor a ITT na decolagem, menor
o custo de manutenção do motor. Além disso, com potência reduzida, a
probabilidade de falha do motor na decolagem é menor.
Flap Selection - uma decolagem com Flap 4, em comparação com uma com Flap
2, consome cerca de 20 kg a mais. Os parâmetros para este cálculo considera que
a fase de decolagem termina a 1500 pés, recolhendo os flaps a partir de 400
pés.
Caso os flaps sejam recolhidos a
partir de 1000 pés (em vez de 400) há um acréscimo de 10 Kg. (adicionais aos 20
Kg).
c- "Climb"
A subida tem um impacto significativo
no consumo, principalmente nos trechos curtos e médios, onde representa de 20%
a 40% do "trip time", usando um FF cerca de 40% maior que o FF da
fase de cruzeiro.
High Speed Climb- subir com alta velocidade (acima da “optimum climb
speed”) é a melhor maneira de aumentar o "trip fuel". Quanto mais
alta a velocidade, maior é o "trip fuel". Com uma velocidade acima de
300 Kts, este acréscimo pode chegar a 3.5%. Isto representa um consumo extra de
cerca 108 kg (calculados de 10.000 pés até o nível de cruzeiro).
Nota - subir com CLB-2, em vez de CLB-1 aumenta o "trip fuel" em,
aproximadamente, 25 kg. Entretanto, subir com CLB-2 pode reduzir os custos de
manutenção do motor. Cabe à Empresa fazer as contas e decidir pelo mais
conveniente.
d- "Cruise Speed/ Altitude Management"
d.1- Nível Ótimo (FMS) - o FMS dos E-Jets sugere um nível ótimo.
Problema já conhecido, este nível sugerido pelo FMS deve ser desconsiderado. O
nível de cruzeiro mais econômico para o LRC é o nível da tabela do AOM (Long
Range Cruise Altitude Capability), exceto se fatores como vento e turbulência
indicarem outra conduta.
Voar 2000 pés abaixo da “Cruise Altitude Capabiity” causa um impacto de, aproximadamente, 37 kg (1.14%) no "trip fuel".
Nota: este cálculo considera que a
velocidade e direção do vento se mantiveram estáveis.
d.2- Wind Altitude Trade- ao subir para um nível mais alto devemos considerar
a variação do vento. Dependendo da variação do vento (principalmente se houver
um acréscimo significativo de vento de proa) não é aconselhável subir. Acontece
que a solução deste “significativo” é complexa e de difícil aplicação. O AOM
publica uma tabela chamada “Wind Altitude TRADE” que pode ajudar nesta solução.
d.3- Speed- voar com velocidade M 0.01 a mais em relação à velocidade de LRC, provoca um acréscimo de, aproximadamente, 13 Kg (0.40%) no "trip fuel".
d.3- Speed- voar com velocidade M 0.01 a mais em relação à velocidade de LRC, provoca um acréscimo de, aproximadamente, 13 Kg (0.40%) no "trip fuel".
e- "Trimming"
O AP (auto-pilot), quando acoplado,
compensa a aeronave para “pitch”, mas não compensa para “roll” e nem para “yaw”.
Para compensar as tendências de “row” e “yaw”, o AP atua na superfície de comando
(ailerons), causando um aumento do arrasto. Por isso, sempre que necessário, o
piloto deve interferir e compensar a aeronave manualmente.
Fuel balance – caso o desbalanceamento
esteja provocando a necessidade de compensação, efetue o “fuel balance” primeiro,
depois compense. Normalmente, pequenos desbalanceamentos de combustível não
descompensam a aeronave.
f- "Holding"
Se tiver que efetuar um holding, faça liso. Usar
Flap 1 provoca um consumo de cerca de 20% a mais, em comparação com o avião
liso.
Nos E-Jets, não existe grandes
diferenças de consumo, quando em espera (do FL100 ao FL 300). Portanto, ajuste
o nível de espera em função da distância do aeroporto de destino, de modo a
efetuar uma descida normal e econômica quando for pousar.
Uma maneira de aumentar o combustível disponível para espera é
efetuar a espera na rota da alternativa e na altitude que pretende
seguir para o alternado.
Por exemplo, com destino SBEG e
alternativa SBPV, caso a espera tenha que ser realizada no FL300, é melhor
esperar a aproximadamente 90 NM de SBEG, porém na rota para SBPV.
g- Descent
Descer em FPA de 3%, em vez de “Idle
descent”, provoca um consumo de até 19 kg a mais no "trip fuel". Porém,
não adianta descer em “idle” e nivelar a baixa altura, antes do destino.
A descida em “idle + path” é a solução
ideal, mas difícil de ser executada, pois o FMS do E-1 não tem essa capacidade:
“tem que ser feita no braço”.
Descer em alta velocidade (próximo da VMO/MMO) também causa maior
consumo, mesmo em “idle”. Este consumo excedente, provocado pelo maior
arrasto, pode chegar a 20 kg.
h- Aproximação e Pouso
O pouso na configuração de “flap full”,
nas mesmas condições, consome 10 kg a mais de combustível do que o pouso efetuado com
Flap 5.
No táxi IN, o consumo com 2 motores aumenta em aproximadamente 5 kg/minuto.
Aplicar o reverso a pleno, até quase
parar a aeronave, provoca um consumo de 10 kg, em comparação com reverso mínimo.
Além disso, o uso do reverso com potência máxima aumenta a possibilidade de
ingestão.
Use seus conhecimentos matemáticos para decidir pela configuração mais
econômica, sem esquecer a segurança do voo.
i- SUMÁRIO - Adicional de Consumo:
Segue um sumário do adicional de consumo (em relação ao "trip
fuel"), considerando o voo exemplificado (600 NM de "trip
distance").
ITEM
|
Adtl. Trip Fuel
|
Percentual
|
Aumento de 100 NM na distância para o alternado
|
19 Kg.
|
0,63 %
|
Aumento de 200 Kg. no comb. requerido (extra fuel)
|
9 Kg.
|
0,28 %
|
Usar Flap 4 na decolagem (em vez de Flap 1)
|
19 Kg.
|
0,63 %
|
Limpar a 1000 pés (em vez de 400) na decolagem
|
10 Kg.
|
0,32 %
|
“High speed climbing” (acima de 10.000 pés)
|
108 Kg.
|
3,5 %
|
Voar 2000 pés abaixo da altitude ideal
|
37 kg.
|
1,14 %
|
Voar M 0.01 mais rápido que o LRC
|
13 kg
|
0,4 %
|
Vmo/Mmo na descida
|
20 kg.
|
0,65 %
|
Descer com 3 graus de FPA (em vez de Idle dsc)
|
20 Kg.
|
0,65 %
|
Pousar com Flap Full (em vez de Flap 5)
|
10 Kg.
|
0,32 %
|
Usar “full reverse” ate quase parar
|
10 Kg.
|
0,32 %
|
TOTAL
|
275 Kg
|
8,84%
|
j- Consumo por minuto de operação:
Táxi bi-motor
8 kg/min
Táxi mono-motor (sem
APU)
5 kg/min
Consumo do APU (so eletrico)
1,7 kg/min
Consumo do APU (com carga:
elet. e ar)
2,4 kg/min
Operação do de-ice do
motor
10 kg/h.
Operação do de-ice das
asas
110 kg/h.
3- DETERIORAÇÃO do MOTOR e DEGRADACAO da AERONAVE:
A deterioração do motor e a
degradação da aeronave também provocam aumento no consumo de combustível.
Piloto e Manutenção podem minimizar este potencial causador de gastos.
3.1- DETERIORAÇÃO do MOTOR
O TSFC -(Thrust Specific Consumption) mostra
com que eficiência o motor converte a energia térmica do combustível em energia
de tração.
A deterioração do motor é mostrada
com um FF e ITT mais altos para manter um determinado valor de N1 (valores mais
altos de TFSC).
a- Fatores que Provocam a Deterioração do Motor:
Os componentes do motor a jato são
submetidos a temperaturas acima de 9000 C e pressões extremas.
Quanto mais severa for a operação do
motor, maior a deterioração.
A operação severa do motor provoca:
·
Erosão das partes móveis, com modificação na forma aerodinâmica e
"blade tip clearances" (representa 45% do total TSFC);
·
Aumento de espaços entre os selos internos do motor, devido à erosão e
fricção;
·
Vazamento nas juntas e nos selos (representa 5% da deterioração); e
·
Erosão por FOD.
b- Procedimentos Operacionais
para Evitar a Deterioração do Motor:
·
Potência para iniciar o táxi: minimize a quebra da inércia
quando parado (tente usar, no máximo, 40% N1). Evite parar o avião totalmente
no táxi para não ter que repetir o processo;
· Táxi: durante as curvas evite deixar o motor para fora da pista. Caso não
seja possível, não acelere motor externo quando o ele estiver fora da
pista;
·
Reverso: não aplique o reverso com velocidade de táxi, só em
emergência.
·
Decolagem: evite usar “static TO” desnecessariamente;
· Geral: evite movimentos rápidos com as manetes. Isto causa fricção na
ponta das palhetas e aumenta os espaços.
b.1- Prevenção de FOD (areia, neve, partículas de metal, cinzas vulcânicas,
pavimento solto): partículas nos pavimentos podem danificar significativamente
os componentes do motor, devido ingestão por sucção, mesmo em “IDLE thrust”.
Uma causa comum de ingestão no solo é o vórtice criado na entrada do motor. O vórtice
aumenta com o aumento da potência, principalmente em baixas velocidades. O vórtice
pode ser dissipado aumentando a velocidade do avião ou com "headwind" forte.
Regras gerais para dissipar os vórtices:
- 10 Kts de velocidade dissipam vórtices
formados com até 40% de N1;
- 30 Kts de velocidade dissipam
vórtices formados na potência típica de decolagem.
b.2- Reduced Thrust
Para cada 1000 ciclos de operação do
motor, o motor deteriora em aproximadamente 0,07%, se decolar TO-1 em vez de
TO-2.
Decolar com TO-2 (em de TO-1) significa:
- menos FF e menor ITT;
- custos de manutenção menores; e
- menor probabilidade de falha na
decolagem.
c- Procedimentos de Manutenção
·
Lavagem do compressor;
·
Inspeção e correção de problemas no motor;
·
Análise do "trend monitoring".
3.2- DEGRADAÇÃO AERODINÂMICA da AERONAVE
As aeronaves são desenhadas para ter
o máximo de sustentação com um mínimo de arrasto. O objetivo é consumir menos
combustível por NM voada. A degradação aerodinâmica provoca aumento do arrasto
e, consequentemente, do consumo.
Se a aeronave não for bem mantida, pode-se ter uma degradação aerodinâmica de 2%
(em 5 anos). Por outro lado, se a aeronave for bem mantida, espera-se 0,5% de
degradação, em 10 anos.
Até mesmo sujeira pode degradar a
aeronave e provocar aumento no consumo (até 0.1 % do “specific range”).
Causas da degradação aerodinâmica:
·
Desalinhamento de portas, painéis de acesso, janelas e rebites;
·
Vazamento de selos e selos aerodinâmicos danificados;
·
Enrugamento, rugosidade e remendos na pintura;
·
Superfície de comando desregulada/descompensada;
·
Reparos irregulares, que deformam a aerodinâmica da aeronave.
Áreas cuja degradação mais afeta consumo:
·
Asas;
·
Flaps e Slats;
·
Spoilrs e Ailerons.
4- E-JETs X E-2 (Fuel Saving)
Além da redução de consumo devido aos
aperfeiçoamentos aerodinâmicos (novas asas) e aos novos motores, o FMS do E-2
promete novas características para auxiliar no “fuel saving” (algumas destas características são opcionais)
- Melhor capacidade de processamento do
FMS, para fornecer mais precisão nos cálculos de performance da aeronave;
- Cost Index (solução para o COC mais
econômico);
- Capacidade de calcular “idle
descent”;
- Capacidade de efetuar os cálculos
para solucionar as decisões do “wind altitude trade” (escolha da melhor
altitude em função do vento);
- RNP 0.1 (mais precisão e mínimos
mais baixos nas aproximações).
5- CONCLUSAO
A redução do consumo de combustível é
resultado de um esforço conjunto, de DOVs, pilotos e Manutenção. A correta
operação e uma manutenção adequada da aeronave, aliadas a uma aeronave bem
equipada, são fundamentais para redução do consumo de combustível.
Os DOVs contribuem com um
planejamento adequado.
Os pilotos exercem uma fundamental
ação, operando corretamente a aeronave e os motores.
A Manutenção contribui para uma
aeronave com baixa degradação e motores mais eficientes.
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